terça-feira, 21 de agosto de 2012

O que o teatro quer de mim? O que eu quero do teatro?



Oh céus... oh vida....
Começo essa postagem assim, desabafando as angústias, deixando agora o ar sair, mais do que entrar.
Não sei se é a estréia, o medo ou a frustração.... mas meu coração bate com ansiedade.
Em muitos momentos nós (o grupo) nos sentimos frustrados. Acho que essa sensação vem em função do amor e admiração que temos pela arte de atuar. Porque nos cobramos tanto?
Parece que sempre temos a pretensão de agradar ao público, porém neste trabalho que realizamos agora, isso não se faz presente.
Medo, angústia, frustração são características indispensáveis dessa peça.
O que apresentaremos ao público?  Apresentaremos um produto, sim. Mas principalmente parte de nossa pesquisa atoral.
Muitas cenas foram dispensadas... algumas me agradavam bastante.
O trabalho de ator no Olhar do outro, com a supervisão da Alexandra Dias, fez sentir outra parte de mim, ou seja, sempre fui muito visceral, doava muita força para qualquer personagem. E nesse momento, tenho doado outras faces, como suavidade, perseverança, técnica, silêncio, aceitação da não-ação.

Sinto meu corpo dolorido, depois de 3 meses corridos de experimentações. Todos os dias pondo o corpo e a mente para trabalhar. Agora mais o trabalho com as escadas, ombros roxos, canelas machucadas, dor nos pés, nas costas....
Quem disse que ía ser fácil?

Como auto-avaliação, preciso dizer que só estou presente quando realmente estou.... não consigo ir somente com o corpo e deixar a mente em casa. Estou! ou não estou!
Hoje precisei fazer um retiro na cama, deixar o ar entrar.... mas a culpa de deixar o resto do grupo ensaiar sem mim é grande. Mas não havia o que fazer....
Vontade de chorar.... chorei!
É tanta expectativa que as pessoas criam... Sinto muito, mas não pretendo agradar ninguém neste trabalho.
Está sendo uma descoberta (sútil) e unicamente minha.
Mas sim, essa permanência e resistência no fazer teatral ora nos eleva ora nos frustra. Queremos que haja público de teatro nas cidades... mas também não criamos algo para agradá-los....
Como disse uma jurada de um festival que tive a oportunidade de participar: "Eu gosto de coisas belas, não gosto de coisas tristes". Lamento, mas o que pode ser belo para um, não será belo, necessariamente para o outro. Tem gente que assiste novela porque julga belo, outros usam o aparelho de TV como áquario, pois belo é a natureza! 
Será impossível agradar a todos, mas tocar alguns, isso é possível!

Nosso trabalho atual viaja entre a linguagem do teatro e da performance. E digo viaja, pois também faz uma ponte ao inconsciente.

Nas próximas linhas dessa postagem escreverei duas versões de uma mesma pergunta:

  • O que o teatro quer de mim e o que eu quero do teatro? (uma versão mais antiga, a primeira. A outra, mais recente).
As respostas foram escritas, sem me dizer não. Ou seja, deixei a mente escrever o que o coração sentia.

O teatro quer de mim, o mesmo que a terra quer de uma árvore.
Quer raízes, quer fortalezas. Marcas do tempo gravadas no corpo, na expressão.
Cada traço em meu corpo, uma obra a revelar.
Das raízes vem a força, a segurança. Conexão com a terra.
O vento a pulsar trará sempre algo novo, que vem de longe.
Trás o meu ânimo em atuar.

O Teatro quer que eu me arrisque por ele, dõe minhas horas,
meus desejos insanos (...)
Ele quer que eu não tema, pois será como um vulcão em erupção
a descobrir minhas próprias faces.

Eu quero que no teatro possa me encontrar.
Mesmo quando tudo desmoronar.
A expressão teatral é reveladora, transforma vidas.
Quero poder satisfazer meus desejos de atriz, ultrapassar a linha do real.
Me desnudar e atingir pessoas...
Quando me exponho e mostro meu modo, é menos uma máscara a possuir.
O teatro, feito por atores, é buscador da verdade e se quer,
denuncia.

Eu quero que o teatro seja o caminho e, não o atalho.
É a minha forma de viver no mundo.
Através dele faço poesia, versos, ensaios.
Alúcino e também realizo.
Modifico vidas (nem que seja a minha)
Posso brincar de ser quem quiser, como quiser...
sem seguir regras.

Quero que a partir do teatro possamos denunciar a corrupção.
Quero que o teatro me queira ... ao meu corpo.... minha alma....
Não sou nem serei menos digna ao vestir máscaras,
pois é a está arte sagrada que dôo minahs horas de estudo,
meu conhecimento interior e para com o mundo.
Agradeço a ele, pois ajudou-me a tornar quem sou hoje.


Meses depois, para a mesma pergunta, uma nova resposta:

De certa maneira quero do teatro a complexidade de seus personagens e enredos,
que são reflexos da vida real.
O que não compreendemos aqui (...) pode ser transposto ao teatro, à cena.
"EU QUERO DA VIDA UMA VERDADE REIVENTADA" Clarice Lispector
Isso eu encontro no teatro... quando os amores da vida cotidiana não são como nas dramaturgias.
A vida não é Romeu e Julieta e nem somente Medéia, Eléctra ou Édipo Rei.
Tanta simbologia que minha mente até desconhece.
Me aprofundo na subjetividade.
E para onde foi Jung?

A vida se não for reinventada, é melhor que não exista.
Na arte e específicamente no teatro, encontro essa maneira de ser.

Por quê a escolha por um caminho tão difícil assim?

Não há nada que seja tão evidente, nem fórmulas mágicas, seja de "Stan" ou Grotowski.

Espero que o teatro persista em mim, assim como o persisto.
Essa maneira de recriar, re-contar, elaborar, projetar.
Um universo fluido e irreal... que encanta.

De um lado uma sociedade (massificada), cheia de imposições. Por vezes, vazia de virtudes; alimentada por um sistema que arroga, impõe.
Onde tudo é medo, frustração ou mero funcionamento maquinário.

O homem cheio de pensamentos (...) poeta, pintor, navegador,
colore a alma, alejos do arco-íris.
O teatro sobrepõe o vazio existêncial.
É a fuga das imposições.
Encontra Chico Buarque, Caetano e Bethânia.
Reconta e cria histórias sobre as histórias,
da galinhola até "A gaivota".

Quero meramente viver essas vidas, contá-la aos outros...
E isso, não é nada além do que compartir sonhos, vontades, literatura, enfim.

Obrigada ao leitor.
Uma atriz...
Tai Fernandes

Nenhum comentário:

Postar um comentário