segunda-feira, 30 de julho de 2012

Olá leitores do blog Olhar do outro.
Vou registrar aqui alguns momentos do nosso trabalho, tentando trazer tais imagens ou sensações que viemos encontrando ao longo desses dois meses de trabalho.
Sei que palavras muitas vezes são belas, mas difícil é trazê-las para contar à vocês tudo que estamos experimentando.
Em nosso processo (ensaios, aulas, encontros) já decidimos algumas das faces desse trabalho; um tanto de subjetividade, imagens dos sonhos (inconsciente), cores de penúmbra e acima de tudo, todas dificuldades do processo atoral. Por vezes, frustração, medo, ousadia, impacto.
Variadas histórias, algumas de amigos e muitas autobiográficas.

Alguns de nossos encontros foram dedicados à partitura/composição do grupo inteiro, tínhamos ideia de ser nosso prólogo... mas até o fim desse processo, realmente não sei o que vai acontecer. Agora, lembrando de alguns encontros, recordo-me de um texto que nasceu de minhas ações corporais que aqui compartilharei com interessados.  Naquele dia, buscava um corpo que expressasse todos os sentimentos, os mais intensos, que marcaram essa minha caminhada pelo teatro. Lembro que antes tudo era sonho, tudo era possível. Engraçado que conforme vamos "amadurecendo", vamos deixando pelo caminho pedaços de nós. Antes tudo era belo... e depois de perdermos pedaços nossos pela vida, vamos ficando mais rígidos, mais amedrontados. O amor muda sua forma, as ações são mais pensadas. Mas então, para não perder o fio da meada, voltarei àquela busca atoral que falava, o texto saiu de mim, leve, como uma dança sublime (...)

"Durante muito tempo eu tive medo, incertezas
Oscilava em minhas ações.
Foi difícil tomar uma decisão
Mas um dia, eu tive uma revelação
Pois se não se pode mudar o mundo
É possível mudar a si mesmo
Encontrar algo em seu coração
Uma necessidade, um desejo (...)
O caminho no teatro é assim,
Quando você descobre suas distintas potencialidades
e possibilidades de transformação,
ou até mesmo de entrega
de conhecimento, de troca dos sentidos,
de amor, de sonho (...)
Catarse.
O rumo do ator é como uma caminhada sobre a corda bamba".

Depois dessas experiências individuais, resolvemos uni-las, juntando a composição de cada ator. O que surgiu foi um grande espetáculo-improviso cheio de imagens interessantes que guardamos em nosso corpo-memória para retomar ao nosso produto (trabalho que será lapidado para apresentar ao grande público).
Também ficou como característica do projeto Olhar do outro, é o trâmite ou trânsito entre os personagens, ou seja, ora sou Nina ora Trepliov ... não importa, o foco não está na interpretação de um personagem, mas nessa ideia de transitar por eles. Basta manisfestar isso por algum código, mesmo que seja a palavra.

Nossa diretora observou, nas primeiras improvisações sobre "o espetáculo A Gaivota" que mantínhamos um ar de solenidade, que havia uma gravidade pesada, digams assim ... conexão com a terra.
Muitas vezes um exagerado nas emoções, seguindo um caminho expressionista. Estrutura não-linear na forma de contar essa história e/ou vivênciar esse conto. Ainda, nessas primeiras improvisações, ela, notou uma ausência de noção de grupo, ou seja, ainda estávamos muito no campo do individual sem perceber o outro, com muita necessidade de estar sempre em cena, sem aceitar a hora de retornar, voltar atráz, silênciar. Havia ali uma ansiedade em participar das cenas. Nos atentou a perceber os momentos, as cenas dos colegas que por horas ganham mais importância e senão pararmos para ouvir, tudo ficará um caos. Isso me faz lembrar Nietzsche, quando diz que devemos nos afastar para perceber mais de longe ... momentos em que menos é mais.
Ainda, nossa diretora colocou, "quando as vozes estiverem graves demais, não fiquem nessa energia somente densa, ela causa uma bigorna a quem ouve".
Passamos a investir mais na conexão com o espectador, ainda que nossos ensaios sejam em lugares fechados e sem público, estamos nos abrindo para essa sintonia, até porque, quando apresentarmos nosso "produto", o apresentaremos na rua. Nesse espaço, não há um palco delimitado, nem seremos seres intocáveis.
Olhos atentos ao estado de cena, pois ora estaremos dentro ora fora, isso pode ser definido por um gesto ou até um silêncio, uma ação ou não-ação. Não há aquela característica de incorporação de um personagem. "Menos pode ser mais".
O estado agente constrói.
Estamos trabalhando com elemento performance, ou seja,  parece quotidiano. Remte uma confusão. De maneira que vamos saindo da couraça personagem e revelamos um outro momento.

"No performer a performance pode resultar muito próxima do processo (...) Seja fiel aquilo que está te acontecendo" Jerzy Grotowski.

Deixo aqui, momentos, sensações ou relatos do meu diário de processo.
Obrigada por dedicar pedaço do seu tempo, com nosso trabalho, nossa arte.

:)

Tai Fernandes
   

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